sábado, 10 de setembro de 2011

As mãos

Estava tão apertado, tão difícil, que resolveu se curvar. Atirado ao chão, deixava toda aquela tempestade bater em suas costas, sua nuca. Aos poucos, gota-a-gota, o mal foi sendo suportado. Recorreu a quem talvez seja a única pessoa capaz de lhe dar a vida. E deitou. Esperou o efeito do tônico dos deuses, na esperança de um milagre. O inacreditável é que ele sabia ser o culpado da própria dor. Por usar demais. Mesmo assim, no dia seguinte lá estava ele novamente, na chuva, expondo seu corpo de novo. Mas o labor foi feito com tanta intensidade, com tanta arte, que superou todas as expectativas! Era o seu ápice dos últimos tempos. Insuperável exceto pela primeira vez. Veio a dor novamente. E de novo réu confesso. Não seria acusado por si mesmo, o medíocre. Ocorre que o amor o fez continuar. E dedicou os dias que eventualmente surfará em glória ao desejo capital. Desta vez não faria da mesma forma, refletiu. Escolheu com dedos de cirurgião, ou melhor, de artesão que era. Escolheu a melhor obra poética, o símbolo perfeito de seu amor. E se dedicou a viver por esse ideal. Eternamente, até que outro desejo lhe tomasse as mãos.

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