sábado, 3 de novembro de 2012

o dilema do papel e da razão

o engraçado é que a caneta é uma interlocutora ansiosa.
ela praticamente força o encontro do sentimento com a expressão.
viva em tinta, se entorna em pedaço de papel, embebedando-o.

como curar a ressaca? é o dilema do papel.
tantas lamúrias, reclamações, pesares...
me toca até com nuances de lascívia quando sou guardanapo a la carta de amor.

o que importa é que a razão, mediadora da emoção, predadora de certezas,
vem com seu jeito majestoso e incontestável
e filtra toda aquela verdade que estava a se jogar pela tinta da caneta e pelo nervosismo das mãos

pra onde vai tudo isso? seca ou se canaliza em versos outros?

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

entre degraus e sementes


se entende cada passo frustrado não como uma derrota, mas como um pressuposto pra vitória (daqueles que não aprenderam a voar), chama-os de degraus e comemora cada avanço.
se encara cada sofrimento como um aprendizado, não como um tormento, chama tua lágrima de "preparadora de solos", e espera. que as sementes vão vingar.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Do teu lado

O que passa em meus pensamentos é imediatamente afetado pela previsão canhota do que os outros vão pensar. Seja porque parto do preconceito da ignorância, seja porque pretendo obscurecer um ou outro ponto que não gostaria de expor.
Mas é tão fácil ver...
Aonde falta cor, ali pesamos pouco a mão, algo quer se esconder. Aonde sobra, borra, os tons são fortes. É nesse lugar que falta, aqui tentamos decorar rapidamente uma sala vazia, um quarto abandonado.
Eu te vi. Vi não só através, mas além e a mim mesmo. Eu que não amo espelhos amei olhar nos teus olhos.
O preço da verdade pode ser muito alto e sinceridade às vezes mata. Mata bases sólidas e velhas, que não resistem quando as camadas fundas são areia. Esta que foi ocultada, e tudo foi construído sobre ela. Que suporta tudo.
Mas nossa força pode chover. E com sorte o barro pode se fundir, posto que naquele tempo nem eu nem você acreditaria em qualquer coisa sobre aquele chão.
Jogar mais um pouco de luz sobre teu espelho, é irradiar mais de mim sobre você.
Uma hora será.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Em memória do que foi com o vento


Comece pelas folhas
Retire-as todas, estão secas...
Deixe nu aquele galho perdido
Já não tem alma

O cheiro se eleva

Quebre
De modo que não mais se reconheça
Seja reconhecível
Visível
Arranque de maneira bárbara
Na rudeza deixe sinais que a pele foi violada

Não há sangue
Talvez já tenha havido seiva
Exala mais aroma
Próximo à base é mais madeira
e menos ramo...
Menos frágil

Apressa teu passo
Está tudo sujo
Ah, como é fácil correr a mão pela folha!
Limpar tudo...

Tão bom poder ouvir o canto esquecido de um pássaro...
Agora, só o fogo ou o tempo poderá quebrar
Sim, havia ali um poço de história.

sábado, 30 de junho de 2012

Há muito tempo e hoje também


A régua do meu tempo é que ele passa diferente pra mim e pra você.

Não posso esperar pela hora certa (o que nossa racionalidade se cansou de errar) se ela não existe (não em si mesma, é feita por nossas mãos).

Acreditar que tudo está escrito e que sua história prescinde do seu arbítrio é a própria covardia sedimentada.

Façamos!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

o sem sentido facilmente dedutível

É um pedaço de céu claro, é um pedaço de céu turvo.
São todas as lembranças de você que não consigo apagar.
Por que técnica? Por que medida?
É livre, simplista...
Não tem gesso (nem estilo).
É um tamanhão grandão de amor sem clichês de sedução.
Agora e sempre, difícil me determinar no tempo e no espaço.
É moderno, é sem sentido.
São todas essas coisas que parecem um retalho, mas cuja resposta e significado encontram-se cada vez mais patentes.
São todas essas coisas que não tenho tempo de arrumar agora.
Que vou acumular naquele envelope.
Que vou separar naquelas utópicas horas.
Que da sua arrumação vou me determinar no espaço e no tempo.
Fazendo aqui 'vês' simbolizando urubus nesse céu imenso.
E eu desenho como sinto, como percebo, como a realidade toca em mim; toda em mim...
ah... como sou comum!

quarta-feira, 30 de maio de 2012

em busca da teoria da alma...

Valha-me Deus! Indago porque tamanha dedicação numa obra ao contrário. Assim como grandes pintores, literatas, te dedicaste à exaustão para apresentar algo tão feio, tão odioso de si mesmo. Na verdade seu olhar revelara sua verdadeira personalidade, através da pupila dos outros. Sua concepção de mundo não se restringia ao espelho. Agora, maldito seja! Condenado à desgraça de ficar só, ele viverá a filosofia do grão de areia, imperceptível ao isolamento dos seus, sem valor algum com eles. Um verdadeiro limbo existencial... Não sabemos o que preferimos, somos maltrapilhos à esquerda, alocados onde a corda arrebenta. Tudo o que fazemos é pra justificar tamanha desigualdade, tudo o que defendemos parte dessa premissa.

Eu fujo de casa e busco um novo lar. Ante o meu desconhecimento, receio que seja feito sobre as mesmas fundações do casebre que ruiu. Eis a teoria da alma. Parente consanguínea, posto que ora me desentendo, ora reato os laços, mas nunca me divorcio.