quarta-feira, 12 de outubro de 2011

De volta ao início

Era mato. Estava sempre a disposição, servindo de alimento pros bichos.
Quis ser bicho. Afinal, eles eram poderosos, sempre que tinham vontade, se alimentavam.
Aí o mato acabou. Pedi pra ser ave. Ave é o bicho que se alimenta de bicho.
Mas aí os bichos acabaram e me foi oferecida a dádiva de ser urubu: o bicho que come o
bicho que ninguém quer mais.
Depois que a concorrência ficou inviável, me perguntaram se eu gostaria de ser um humano.
Eu imaginava que não merecia tamanha honra. Um homem!
Quando então me tornei um, foi mágico!
Tinha enlatados a disposição, carnes congeladas, industrializados, produtos que não só alimentavam o corpo,
mas que alimentavam os desejos.
Mas percebi que queria mais e mais, que por algumas vezes passei por cima de outros homens pra conseguir
os meus objetivos. Percebi que queria ser outros homens, e que não gostava quando era superado por qualquer deles.

Quando atingi o despertar, falei para o íntimo da minha consciência:
Fui todas as criaturas que estão sobre a terra, fui mar e fui vento.
Eu peço: me deixe ser planta de novo, e eu semearei tudo aquilo que aprendi.
Mas o que aprendeu?
Nesta vida nós 'servimos' e somos 'servidos'. Minha vida não faz sentido se não for fazer algo por alguém, na mesma medida que não aguento viver sem que façam algo por mim, ainda que seja um sorriso.

Por isso, ser planta...

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